Vozes da Vila Sahy: Da tragédia à luta por justiça climática na Mata Atlântica

Imagem hero

Em fevereiro de 2023, o Litoral Norte de São Paulo foi atingido por chuvas históricas, que resultaram em devastadores deslizamentos de terra. O que a mídia chamou de desastre natural, a comunidade local define como uma tragédia-crime, pois a dimensão da catástrofe é vista como resultado direto da falta de políticas habitacionais e de planejamento urbano em áreas de risco da Mata Atlântica. Desse cenário de dor e destruição nasceu o Movimento União dos Atingidos, uma voz que se recusa a ser silenciada. Formado por um pequeno grupo de 20 participantes, mas com alcance em 11 comunidades e mais de 2.100 pessoas, o movimento transforma a dor em ação, clamando por moradia digna e justiça socioambiental.

A força do movimento está na liderança que surge do próprio território. Rosilene dos Santos, a Nega Rose, é uma das principais vozes da União dos Atingidos. Moradora da Vila Sahy há mais de 30 anos, ela usou sua história como erveira e ativista para acolher e mobilizar a comunidade.

“Eu e mais alguns moradores, fundamos a União dos Atingidos, um movimento que busca fortalecer as famílias que foram atingidas pela tragédia climática no Litoral Norte. Buscamos dar voz à população dentro do seu próprio território, para nos fortalecer de forma democrática e social”, afirma.
homem com cartaz
Ed Davies

Outras lideranças, como Cosme Victor e Leandro dos Santos Silva (Nego Léo), compõem a base de sustentação do movimento. Cosme, um educador popular com mais de três décadas de experiência na luta por moradia, atua como um mentor para o grupo, reforçando o poder da ação coletiva. “Eu não me vejo como liderança, eu ajudo na luta, mas a liderança é quem está na frente”, diz, com humildade.

Já Nego Léo, com sua paixão pela educação popular e pela capoeira, trabalha há 25 anos com crianças e jovens, preparando a próxima geração para a luta. Sua esperança é clara: “Que as novas gerações possam vir fortes e com ações definitivas para mudar esse mundo”.

Com o apoio do FunBEA, o Movimento União dos Atingidos está fortalecendo seu plano de ação para 2025. Os recursos estão sendo usados para mobilizar a população na criação de associações de bairro, promovendo rodas de conversa sobre empoderamento feminino e investindo em tecnologias de comunicação e um website. O apoio também alcança diretamente as lideranças, que têm acesso a cursos de oratória e direitos humanos, aprimorando ainda mais suas ferramentas de luta. É um investimento que não apenas ajuda a reconstruir um território, mas, principalmente, a construir uma comunidade mais consciente, organizada e resiliente.

Grupo de pessoas
Ed Davies

Ao potencializar as vozes de quem viveu a tragédia, o movimento reforça que a justiça climática e social só pode ser alcançada com o protagonismo das comunidades na linha de frente. A União dos Atingidos é um farol de resistência que ilumina o caminho para um futuro em que a moradia, o direito à cidade e o cuidado com o meio ambiente sejam prioridades inegociáveis.