Caiçaras do Araçá: A Luta pela Vida em um dos Últimos Manguezais do Litoral Norte

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No litoral norte de São Paulo, o Mangue do Araçá é um dos últimos remanescentes desse ecossistema vital. Há quase 90 anos, essa baía de biodiversidade é sufocada pela expansão do Porto de São Sebastião e a exploração de petróleo. Contra a pressão de obras e a poluição, um pequeno movimento de caiçaras, o Movimento Unidos da Baía do Araçá, resiste e prova que o conhecimento ancestral, aliado à mobilização comunitária, é a força mais poderosa na luta pela vida e pela justiça climática.

A história da Baía do Araçá é marcada por conflitos. Desde a criação do porto nos anos 30, a comunidade tradicional caiçara viu seu território ser "roubado", com praias aterradas e a geografia da costa alterada. O porto e o terminal da Petrobras (TEBAR) trouxeram crescimento desenfreado, mas também poluição, descarte de resíduos e a ameaça constante de novos projetos de ampliação que, em 2024, levaram o movimento a derrubar um projeto de lei que visava urbanizar e expulsar moradores. "Desde quando o porto se instalou aqui, a nossa comunidade foi roubada", lamenta Humberto Messias, um dos principais ativistas da região.

senhor Humberto no mangue
Ed Davies

Humberto é a alma da luta pela preservação do mangue. Cresceu na baía e, após um curso de viveirista em 2010, começou a produzir e plantar mudas da flora nativa. Diante das dificuldades causadas pela poluição e pelos sedimentos de dragagem do porto, ele desenvolveu um método próprio e único para fazer as mudas resistirem.

“Eu comecei a trazer essas mudas para dentro da minha casa. Misturava a água doce com a água salgada para a muda se acostumar”, explica. Sua dedicação não vem de uma obrigação, mas de um profundo amor pelo lugar.
“Não faço porque sou obrigado, mas faço porque eu amo esse lugar e não me vejo morando em nenhum outro.”

O trabalho do movimento, que beneficia mais de 4 mil pessoas, recebeu um impulso decisivo com o apoio do FunBEA via Chamada Pública Justiça e Educação Climática. Com um aporte de R$ 30 mil, o grupo adquiriu um barco, ferramenta essencial para o monitoramento contínuo e a denúncia de crimes ambientais como vazamentos de óleo. O recurso também está sendo usado para incentivar o turismo de base comunitária, fortalecer parcerias com escolas e aprimorar a comunicação, garantindo que a luta seja ouvida por mais pessoas.

A história de Humberto e do Movimento Unidos da Baía do Araçá ilustra a força da filantropia em dar voz e ferramentas a quem está na linha de frente da crise. O trabalho que fazem tem impacto local e global, pois os manguezais são fundamentais para o equilíbrio ambiental e para a captura de carbono.

“O que a gente faz aqui não é só para a gente, é para todo mundo. Quando a gente planta um mangue, isso vai refletir não só para mim, mas para todo ser humano que respira”, conclui Humberto. A luta por um manguezal vivo é, na essência, a luta por um futuro habitável para todos.