Sementes de esperança: Viveiro de mulheres renasce na terra gaúcha após as enchentes

Em 2024, as enchentes históricas devastaram o Rio Grande do Sul, deixando um rastro de destruição e a necessidade urgente de reconstrução. Longe das manchetes sobre infraestrutura, a verdadeira resiliência começou a florescer no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão. Ali, o grupo Mulheres da Terra encontrou na agroecologia e na recuperação ambiental não apenas um caminho para curar a paisagem, mas para fortalecer o próprio tecido social. O projeto “Viveiro Mulheres da Terra: reconstruir a conexão com a Mãe Terra” é a prova de que a adaptação climática precisa ser plantada e cultivada localmente, com as mãos de quem conhece o chão que pisa.
A iniciativa, nascida de um sonho comunitário, é a concretização de um trabalho de anos. As mulheres do assentamento, já protagonistas na produção agroecológica e na luta pelo direito à terra, se uniram para criar um viveiro capaz de produzir mudas de espécies nativas, muitas delas ameaçadas de extinção. O objetivo é duplo: reflorestar áreas degradadas e revitalizar os quintais agroflorestais, garantindo a biodiversidade e a resiliência do território.
“Por nosso viveiro ser muito recente, nosso trabalho está trazendo a conscientização das mudanças climáticas e apresentando uma possibilidade de recuperar nossas matas através do plantio de árvores”, explica Isabel Cristina Ribeiro Dalenogare, coordenadora do grupo.

A proposta vai muito além de produzir mudas. O projeto é uma injeção de autoestima e união, um catalisador para o engajamento de toda a comunidade. O grupo já planeja doar mil mudas de espécies nativas em 2025 para as famílias do assentamento.
“Com esse plantio, estimulamos o cuidado com o nosso território, fortalecendo-o para enfrentar as mudanças climáticas”, complementa Isabel. A estratégia também envolve crianças e jovens, que são levados para as escolas para aprenderem a importância de cuidar da natureza. “Com certeza teremos mais pessoas conscientes do problema das mudanças climáticas e atuando para o enfrentamento com a ação de recuperar a natureza”, ressalta a coordenadora.
Para que essa semente de esperança pudesse germinar, um apoio pontual e estratégico foi essencial. Em meio à sua chamada emergencial para o Rio Grande do Sul, o Fundo Casa Socioambiental destinou R$ 34.390 para a implantação do viveiro. Para a comunidade, esse valor, que para muitos poderia parecer pequeno, representou um voto de confiança inestimável. Um exemplo de como a filantropia parceira e independente pode ser a faísca que acende a autonomia e potencializa soluções locais que geram resultados duradouros e significativos.
O trabalho das Mulheres da Terra no assentamento Filhos de Sepé é a prova viva de que a reconstrução do Rio Grande do Sul deve ir além do concreto. A adaptação climática exige o fortalecimento das comunidades, o resgate da conexão com a terra e o investimento em soluções baseadas na natureza. É assim, plantando mudas e saberes, que essas mulheres constroem um futuro mais justo e resiliente, mostrando ao mundo que a resposta para a crise climática está na força e na sabedoria da base.
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