Quebrar o coco, defender a vida: mulheres do Piauí enfrentam o desmatamento e fortalecem territórios com o babaçu

Em meio ao avanço do desmatamento e das queimadas que castigam a Caatinga piauiense, um movimento silencioso e inspirador está ganhando forma: mulheres quebradeiras de coco babaçu estão se organizando para defender seus modos de vida e o território que habitam há gerações. Presente em nove municípios, a Associação de Mulheres Trabalhadoras do Coco Babaçu do Baixo Parnaíba Piauiense (AMTCOB) conta o apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos para mobilizar mais de 160 mulheres indígenas, ribeirinhas e quilombolas, com impacto indireto em cerca de 700 famílias. O foco é duplo: preservar os babaçuais e fortalecer a autonomia das mulheres, reconhecendo sua atuação como guardiãs da floresta e sujeitas de direito.
O babaçu, para essas mulheres, não é apenas fonte de sustento. É memória, é raiz, é corpo que resiste. A quebra do coco, passada de mãe para filha, é também uma pedagogia ancestral, uma forma de educar sobre o cuidado com a terra, a coletividade e a resistência frente às desigualdades. E é nesse fazer cotidiano que o projeto finca seus alicerces: com as mãos que colhem, transformam e cuidam do território, geração após geração.
As ações vão além da proteção ambiental: envolvem capacitações para a produção de azeite e mesocarpo de babaçu, oficinas sobre justiça climática, direitos humanos e incidência política, criando uma rede de formação popular e protagonismo feminino. Tudo isso em um cenário onde grandes proprietários tentam impedir o acesso aos babaçuais, ameaçando os modos de vida tradicionais.
“Com as formações, passamos a nos enxergar como sujeitas de direito, a nos reconhecer como quebradeiras com orgulho e potência. Estamos mais fortalecidas, preparadas e conscientes para defender o babaçu e os nossos direitos. Com esse projeto, a gente quer fortalecer a luta pelo livre acesso aos babaçuais e pela valorização dos modos de vida tradicionais nos territórios do norte e sul do Piauí. Contamos com esses recursos para garantir a formação, a renda, o protagonismo das mulheres de todas as idades e a proteção ambiental”, afirma Klesia Lima, coordenadora da associação.
Este projeto recebeu apoio por meio do edital Raízes: Comunidades Tradicionais Lutando por Justiça Climática (2025), do Fundo Raízes, uma iniciativa do Fundo Brasil que reconhece e financia experiências comunitárias de povos indígenas e comunidades tradicionais, comprometidas com justiça climática, economia da floresta e enfrentamento ao racismo ambiental. Investir em mulheres quebradeiras de coco é investir na proteção das florestas, na segurança alimentar e na autonomia de quem há gerações resiste com o babaçu nas mãos e os pés fincados na terra.