Justiça Climática na periferia: Em São Gonçalo, escolas ensinam a nomear o racismo ambiental

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As periferias do Rio de Janeiro sentem com mais intensidade os efeitos da emergência climática, e em São Gonçalo a situação é ainda mais grave. Dados da Casa Fluminense revelam que mulheres negras representam mais de 63% das mulheres que vivem em domicílios improvisados no município. Além disso, a cidade tem uma das piores qualidades de rios e lagoas da Região Metropolitana, e uma das menores áreas verdes por habitante. É nesse contexto de desigualdade que o Centro de Educação Ambiental Gênesis atua para combater o racismo ambiental na raiz.

Liderado por Lourdes Brazil, o projeto Xô Racismo Ambiental promove oficinas lúdicas e pedagógicas para estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas. A primeira etapa busca dar nome às dificuldades do dia a dia, como a falta de saneamento, de arborização ou de infraestrutura adequada. “No começo da atividade, muitas crianças dizem: ‘Puxa, mas eu amo o lugar onde eu moro, meus colegas, meus vizinhos’. Mas quando elas começam a listar as dificuldades que enfrentam todos os dias é que elas entendem que existe um problema, e que esse problema tem nome”, conta Lourdes.

Em um segundo momento, as turmas partem para uma imersão no bairro, entrevistando moradores mais antigos para resgatar a história e as transformações do território. O próprio Centro Gênesis, localizado no bairro Água Mineral, integra o percurso. Sediado em um fragmento de Mata Atlântica de mais de 60 mil m², o espaço se torna um exemplo vivo da importância de proteger a natureza. Thaís Araújo, professora da rede estadual, destaca o contraste:

“Estamos numa região com muitos contrastes, porque temos os problemas sociais evidentes, mas é um bairro importante e em crescimento, rodeado por municípios como Niterói e Itaboraí”.

A etapa final do projeto incentiva a criatividade. Os alunos são encorajados a propor soluções para os problemas identificados, usando a linguagem de desenhos, músicas, cartazes ou redações. O objetivo é que a discussão saia da sala de aula e chegue às casas. A eficácia da iniciativa já é visível. “Outro dia encontrei um funcionário de uma das escolas e ele disse: “A oficina funcionou, tudo que acontece de errado por lá as crianças dizem, ‘olha aí o racismo ambiental!’”.

O projeto, que faz parte do Edital Agenda Rio 2030 do Fundo Casa Fluminense, é uma prova de que a educação é a ferramenta mais potente para a justiça climática. Ao dar voz e ferramentas para que crianças entendam e nomeiem o racismo ambiental, o Centro Gênesis está plantando as sementes de um futuro mais justo e equitativo para São Gonçalo e para toda a metrópole.