Cisterneiras do Pajeú: A luta das mulheres do sertão por água, autonomia e protagonismo

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No sertão do Pajeú, a vida de milhões de agricultores é marcada pela distribuição desigual da terra e da água. No povoado de Bom Sucesso, em Ingazeira (PE), as mulheres decidiram transformar essa realidade por conta própria. Sob a liderança da agricultora familiar e presidente da Associação Comunitária de Bom Sucesso, Maria Suely Carvalho, elas se organizaram para construir cisternas para as comunidades vizinhas, garantindo segurança hídrica e alimentar para a comunidade e se tornando um símbolo de resistência e protagonismo feminino.

O projeto “Mulheres do Sertão do Pajeú, articuladas pela agroecologia e convivência com o semiárido”, apoiado pelo Fundo Ecos, ofereceu uma capacitação para construção de cisternas para cinco mil mulheres. Em parceria com a Casa da Mulher do Nordeste e o programa federal Um Milhão de Cisternas (P1MC), elas construíram cinco cisternas de 16 mil litros e, com o conhecimento adquirido, passaram a replicar a tecnologia para outras famílias, impactando diretamente o cotidiano da região.

O trabalho vai muito além do acesso à água. O projeto incentivou a implementação de fogões agroecológicos, reúso de águas cinzas e a criação de quintais produtivos. Bernadete Conceição, uma das agricultoras, resume a transformação: “Antes, eu não tinha um pé de coentro porque não tinha água. Hoje, meu quintal está cheio de vida. O Fundo Ecos trouxe esperança e autonomia.”

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A iniciativa também teve um profundo impacto social, desafiando preconceitos. “Os homens duvidavam da nossa capacidade. Mostramos que somos capazes de fazer cisternas e muito mais”, afirma a agricultora e cisterneira Eliene Carvalho. A união das 52 mulheres da Aassociação Comunitária de Bom Sucesso mudou a percepção local. Rosineide Oliveira, conselheira da associação, celebra a mudança: “Nós, mulheres, mostramos que sabemos, podemos e somos capazes. E os homens, que antes duvidavam, hoje nos apoiam.”

O trabalho das cisterneiras é a prova de que o empoderamento feminino é a semente de um futuro mais justo. A associação, que é referência em liderança feminina e agroecologia no semiárido, demonstra que o investimento na capacidade das mulheres gera esperança, fortalece a comunidade e constrói as soluções que as políticas públicas negligenciaram por tanto temponecessárias. Como diz Suely Carvalho, a luta delas é por um mundo "onde as mulheres sejam reconhecidas por sua capacidade”.