Agroecologia e autonomia: A Rede Povos da Mata transforma a realidade no campo baiano

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Mesmo sendo os menos responsáveis pela crise climática, agricultores familiares estão na linha de frente dos seus efeitos mais severos. No entanto, são eles os guardiões de saberes e práticas que oferecem um caminho de resiliência e adaptação. Na Bahia, a Rede de Agroecologia Povos da Mata é a prova viva de que é possível produzir alimentos saudáveis, proteger a biodiversidade e construir um futuro mais justo e sustentável.

A Rede é uma articulação poderosa que une agricultores familiares, assentados da reforma agrária, comunidades indígenas e quilombolas, além de consumidores. O objetivo é fortalecer essa prática, fomentando a produção, o consumo e a comercialização de alimentos de forma limpa, justa e solidária. Hércules Saar, presidente da Rede, explica a essência dessa filosofia:

“A agroecologia já vem sendo praticada pelos povos tradicionais, pelo camponês, há muitos anos. Nós produzimos alimentos que geram saúde. É essa produção limpa, que nos deixa ecologicamente corretos”.

dois homens e uma mulher na mesa.

Para Hércules, essa abordagem é a grande ferramenta para enfrentar as mudanças climáticas.

“É através da agroecologia que a gente vai estar fazendo essa preservação. É através da agroecologia que nós vamos deixar de ter a prática da monocultura, que vamos ter a diversidade dentro da mesma área produtora de alimento. Isso vai trazer maior resiliência para o campo e para nossa alimentação”, destaca.

A confiança e a transparência são pilares da Rede. Em 2016, a organização se tornou o primeiro Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC) da Bahia, credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Essa certificação permite que a Rede realize a validação orgânica dos produtos de seus associados por meio de um Sistema Participativo de Garantia (SPG). Nesse modelo, a certificação é feita de forma colaborativa, onde o "camponês certifica o camponês". "É uma garantia muito preciosa", avalia Hércules.

Hoje, a Rede Povos da Mata articula cerca de 1.200 agricultores certificados, atuando em 22 dos 27 territórios baianos e abrangendo três biomas: Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado. A partir dessa articulação, 23 agroindústrias e 510 unidades produtivas já foram certificadas. Além disso, diversas estratégias de comercialização, como feiras, entrepostos e vendas diretas, garantem que os alimentos cheguem à mesa dos consumidores.

Desde 2019, o trabalho da Rede tem sido impulsionado pelo apoio da Tabôa, uma organização integrante da Rede Comuá. Essa parceria foi fundamental para o fortalecimento institucional da Rede, com doação direta de recursos, equipamentos para agroindústrias e apoio técnico para a regularização de empreendimentos. Hércules ressalta a importância dessa colaboração:

“Tivemos um crescimento bem grande. Não só na área produtiva vegetal, mas também nas unidades de processamento. Através do acompanhamento técnico junto da Tabôa, nós pudemos legalizar 22. Estas 22 agroindústrias puderam receber apoio”.

Com esse suporte, a Rede de Agroecologia Povos da Mata reafirma que a resposta aos desafios climáticos está na força da articulação comunitária e no poder de uma agricultura limpa, justa e solidária.