Para quem vive em áreas de risco na Baixada Santista, a chuva muitas vezes é sinônimo de medo, enchentes e deslizamentos. Em um projeto nascido no LAB Tempestade, um grupo de artistas, ativistas e moradores se uniu para transformar essa realidade. O Calha-Flora é um protótipo que busca mudar a relação com a água da chuva, de uma ameaça para uma aliada, criando uma tecnologia social simples e poderosa para a segurança e a autonomia das comunidades.

O dispositivo foi criado para ser instalado nas calhas de telhados, captando a água da chuva antes que ela sobrecarregue o sistema de drenagem. A água coletada pode ser reutilizada para fins não potáveis, como irrigação e limpeza. O protótipo, desenvolvido com um aporte semente, rapidamente gerou interesse entre moradores que sofreram historicamente com desastres climáticos, provando que uma solução simples pode despertar a esperança em um futuro mais seguro.

A tecnologia se tornou o ponto de partida para um movimento. A partir do protótipo, o grupo promoveu três encontros comunitários chamados "Fazendo as Pazes com a Água". Nesses espaços de escuta mútua, os moradores puderam discutir as políticas públicas da região e co-criar uma versão ampliada do dispositivo. Como resumiu Fabiana Nascimento, uma das integrantes do grupo, a luta vai além do protótipo: “O problema não é a água, é a forma como estamos lidando com ela e com os nossos rios. Queremos influenciar as decisões que estão sendo tomadas na região, porque elas precisam beneficiar as comunidades e não apenas seguir a lógica da especulação imobiliária.”

O potencial do Calha-Flora como uma solução replicável já foi reconhecido internacionalmente. Como parte das atividades do World Creativity Day, a tecnologia foi replicada no Laboratório de Inovação Cidadã de Nuevo León, no México.

O Calha-Flora mostra que a inovação pode nascer de uma necessidade, e que a co-criação com as comunidades é o caminho para o sucesso. O projeto é um exemplo de como uma ideia pode se transformar em uma ferramenta de empoderamento, que não só oferece uma solução prática para o excesso de água, mas também constrói um futuro mais seguro e justo para aqueles que vivem na Baixada Santista.