Guerreiras da Floresta: Mulheres Guajajara defendem a Amazônia com alianças e bem viver

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A Terra Indígena Caru é parte do Mosaico Gurupi, um dos maiores e mais importantes conjuntos de áreas protegidas da Amazônia Oriental. Mas, cercada por municípios ribeirinhas e de agricultura familiar em situação de vulnerabilidade, a região enfrenta ameaças constantes de desmatamento e exploração ilegal de madeira. Para enfrentar essa realidade, as mulheres Guajajara da Caru, criaram o coletivo Guerreiras da Floresta, que atua na linha de frente da proteção do território. O trabalho das mulheres se soma ao dos Guardiões da Floresta, grupo formado por homens Guajajara, que na mesma região, realizam ações de proteção e vigilância territorial. No entanto, a estratégia delas vai além da vigilância: elas identificaram nas comunidades vizinhas o caminho para uma proteção compartilhada e duradoura, por meio de campanhas de sensibilização

Com o projeto “Traçando novos caminhos para o bem viver”, o coletivo pôde fortalecer as suas atividades investindo em 20 microprojetos de produção sustentável nos povoados vizinhos não indígenas, chamados caraiú na língua Tenetehára, falada pelos Guajajara. A iniciativa destinou R$ 2 mil para cada família, totalizando R$ 40 mil, incentivando hortas, quintais produtivos e criação de pequenos animais. A ação foi um gesto de empatia e estratégia. Marcilene Guajajara, coordenadora do projeto, explica a motivação: “Percebemos a carência desses povoados próximo ao nosso território, já que as políticas públicas não chegam até eles. Então nós pensamos formas de contribuir para fortalecer a proteção do território como um todo.”

Grupo posando para foto

A iniciativa não só trouxe renda e autonomia para famílias vulneráveis, mas também estreitou os laços entre indígenas e não indígenas. Antônio Wilson Guajajara, cacique da aldeia Maçaranduba, expressa o orgulho do trabalho:

“Quando soube que o projeto chegou na mão de famílias que tanto queriam e precisavam, eu me orgulhei muito”, disse, reforçando que o objetivo é que a população vizinha enxergue os indígenas como amigos e “que essa parceria não acabe mais”.

Apesar da abordagem inovadora, o trabalho de proteção territorial continua sendo perigoso. Maísa Guajajara, uma das coordenadoras, fala sobre os riscos da vigilância e reforça que a ameaça real vem de fora: “Não é um trabalho fácil. A gente sai de casa para a patrulha junto com os Guardiões sem saber se vamos voltar. O que eu percebo com esse trabalho é que quem faz a invasão não é a população do entorno e sim quem está em grandes cidades. Porque é uma logística grande e cara, considerando o aluguel da motossera, o combustível e a diária de quem vai trabalhar para retirar a madeira”.”. O projeto, portanto, não apenas protege a floresta, mas desarma a lógica do conflito ao construir pontes de confiança e aliança para o bem viver.

A iniciativa, que recebeu reconhecimento internacional como exemplo de boas práticas, ainda resultou na produção de um documentário feito por jovens comunicadores indígenas [linkar pro vídeo?]. As Guerreiras da Floresta demonstram que a defesa da Amazônia não se faz apenas com a vigilância, mas com a construção de parcerias, a promoção do bem-estar compartilhado e o investimento naqueles que mais precisam. É uma estratégia de filantropia comunitária que transforma a vulnerabilidade em uma força de proteção coletiva.