Cerâmica, floresta e resistência: mulheres indígenas preservam saberes ancestrais no Amazonas

Nas aldeias entre o rio e a mata na região do Alto Rio Negro, no Amazonas, mãos indígenas moldam a argila, transformando terra em história. Essa transformação, no entanto, só é possível graças ao caraipé, árvore fundamental no preparo da cerâmica tradicional do povo Tukano.
Com o projeto “Noãgű (caraipé): um elemento essencial na transformação da argila em cerâmica”, a Rede de Mulheres do Estado do Amazonas – Makira Ëta decidiu proteger esse elo entre natureza e cultura. Mais do que uma prática artesanal, a cerâmica carrega modos de vida, cosmovisões e autonomia. E tudo começa com o manejo sustentável de uma árvore: o caraipé.
A organização territorial e as políticas ambientais indígenas são o foco da narrativa sobre os primeiros moradores de Taracuá, o povo Tukano do clã Bohsó Kaperi Porã. A dinâmica cultural foi alterada pela colonização, processo que levou à perda e ao adormecimento de alguns conhecimentos indígenas. A busca pela recuperação desses saberes veio em forma de mobilização comunitária, oficinas de etnomapeamento, plantio coletivo e formação política com mulheres indígenas. O projeto também promove articulações com instituições científicas, aprofundando os estudos sobre a germinação e o manejo sustentável da árvore, o que não se resume apenas à técnica. Trata-se de vida, de território, de futuro.
Além da preservação ambiental, a iniciativa promove autonomia financeira e formação política de mulheres indígenas, enfrentando o racismo ambiental e resgatando práticas culturais adormecidas.
“A gente luta para proteger o território. Também queremos que as mulheres do Alto Rio Negro tenham autonomia financeira e que o que fazemos seja valorizado como patrimônio cultural da comunidade. Mas sem apoio não seria possível. O Labora entendeu os desafios que temos com logística para realizar nosso trabalho e tem nos ajudado com isso”, conta Deise Tukano, coordenadora do projeto.
Esse projeto recebeu recursos por meio do edital “Transição Justa e Trabalho Digno: Bem Viver para Trabalhadores dos Campos, das Águas e das Florestas” do Labora - Fundo de Apoio ao Trabalho Digno, uma iniciativa do Fundo Brasil de Direitos Humanos. O Labora apoia iniciativas que promovem trabalho digno, justiça racial, de gênero e climática, fortalecendo a organização autônoma das pessoas trabalhadoras. Investir em projetos liderados por mulheres indígenas é garantir que o saber ancestral e a resistência cultural continuem a florescer, protegendo territórios e construindo um futuro justo e sustentável.
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